Nove dias, três estados, 3.700 quilômetros de terra, areia, pedras e tudo o mais que estava reservado para a 31ª edição do Sertões BRB. O desafio de encarar o maior rally das Américas chegou ao fim neste sábado. E, se as dificuldades ao longo do caminho foram muitas, um visual paradisíaco serviu de cenário para comemorar uma vitória que, na verdade, é de todos os que o percorreram, já que a prova confirmou a promessa de que seria uma das mais exigentes da história. A Praia do Preá, em Cruz (CE), serviu de cenário para a festa e a consagração dos grandes campeões.
Em duas modalidades, a emoção foi inédita. Nas motos, o norte-americano Mason Klein (KTM 450 Rally Replica / DM Workshop Carnaúba Wind House) justificou a condição de revelação do rali cross-country internacional. Sem conhecer as características dos terrenos brasileiros e alguns macetes da navegação adotada no Sertões, ele dominou desde o início, mostrando-se totalmente à vontade. Um desempenho que trouxe uma emoção especial: embora seja o atual campeão mundial na categoria Rally 2, foi a primeira vitória do californiano na classificação geral. E ainda marcou o fim de um jejum de uma década para a KTM – a última vitória laranja havia sido em 2014 com o espanhol Marc Coma, um dos grandes de todos os tempos.
Gabriel Bruning (Yamaha WR 450F / IMS Yamaha) escoltou Mason como o melhor brasileiro, levando ainda a categoria Rally 2. O argentino Martin Duplessis (Honda CRF 450RX / Honda Racing) veio a seguir, com três países diferentes nos três primeiros lugares.
Nos carros, o Sertões BRB 2023 favorecia, na teoria, os carros 4×4 da categoria T1+, a principal da modalidade no mundo. Mas Marcelo Gastaldi e Cadu Sachs (Century CR6-T / Baja Tek) driblaram os problemas e conseguiram ser velozes para também comemorar de forma inédita. A boa vantagem na classificação geral deu à dupla a chance de fazer com tranquilidade a última etapa, marcada pela travessia de longas extensões de areia e a navegação por waypoints. Até mesmo a configuração de potência usada no buggy sul-africano foi menos extrema que a usual para evitar sustos. Sinônimo de festa na rampa montada junto à Vila Carnaúba.
Entre os UTVs, a disputa confirmou a velha máxima de que o rali só termina na chegada da última especial. A 10 quilômetros dela, a máquina de Rodrigo Varela e Matheus Mazzei (Can-Am Maverick X3 / Monster Energy Varela Racing), que começaram o dia na liderança, entrou em modo de segurança. Deni do Nascimento e Gunnar Dums (Can-Am Maverick X3 / Bompack Racing) tinham uma desvantagem de 1min28 para descontar, e fizeram isso com sobras, após impor um ritmo forte. Para Deni, foi o segundo título, após o de 2019. Gunnar comemorou pela primeira vez.
Em meio a tantos especialistas dos ralis e 90 duplas inscritas, dois nomes mais conhecidos pelos resultados nos autódromos chamaram a atenção. Felipe Fraga fechou sua participação de estreia como sétimo na geral e terceiro na categoria UTV2. Já Nelsinho Piquet levou o título na UTV3.
Os campeões
Carro
Marcelo Gastaldi (piloto)
41 anos (Ribeirão Preto-SP)
Amazonense de coração (se mudou para Manaus com dois meses de idade e leva a bandeira do estado em seu macacão), Gastaldi estreou no Sertões em 2014, nos UTVs, modalidade em que conseguiu o quarto lugar em 2018. Dois anos depois, estreou nos carros com um Buggy Giaffone V8. Com o Century CR6, disputou duas edições do Dakar (2021 e 2022), a segunda com Cadu Sachs na navegação, e conseguiu estar no top-10 de etapas nos carros.
Cadu Sachs (navegador)
25 anos (Piracicaba-SP)
Cadu aprendeu em casa o ofício da navegação – seu pai, Du Sachs, é hoje o diretor de prova do Sertões. Já em provas de mountain bike na infância ele começou a colocar em prática um talento que avançou para o rally cross-country. Depois de uma primeira experiência na equipe técnica do maior rally das Américas, estreou na competição em 2014, nos UTVs. Em 2020 iniciou a parceria com Marcelo Gastaldi que valeu inclusive sua primeira participação no Dakar.
UTV
Deni Nascimento(piloto)
45 anos(Brusque-SC)
Deni começou no esporte pelas duas rodas, no Veloterra, conquistando títulos brasileiros e sul-brasileiros. A convite de um amigo, estreou no Sertões em 2008, sempre nas motos. Já no ano seguinte foi vice-campeão na geral e campeão de sua categoria. Nos UTVs, conquistou o título pela primeira vez em 2019, repetindo o feito neste ano.
Gunnar Dums
29 anos (São Bento do Sul-SC)
O catarinense Gunnar começou a navegar ainda menino, ganhando destaque nas provas de regularidade, em que conseguiu seus primeiros resultados de destaque. No rali cross-country, se tornou campeão brasileiro da categoria UTV1 em 2022.
Moto
Mason Klein
22 anos (Agua Dulce – EUA)
O californiano é considerado um dos principais nomes de futuro dos ralis cross-country nas motos. Numa modalidade que costuma premiar nomes com maior experiência, ele se sagrou campeão mundial (W2RC) na categoria Rally2 no ano passado e terminou seu primeiro Dakar entre os 10 na geral. Na prova de 2023, venceu uma etapa do mais tradicional rally do mundo e liderou a classificação geral, antes de abandonar por contusões. A paixão pelo off-road é tanta que ele fez questão de buscar pilotando seu diploma da High School.
Classificação final
MOTO
1) Mason Klein (EUA), KTM 450 Rally Replica, (1)MT1, 28h14min19
2) Gabriel Bruning, Yamaha WR 450F, (1)MT2, a 14min21
3) Martin Duplessis (ARG), Honda CRF 450RX, (2)MT1, a 15min15
4) Gabriel Soares, Honda CRF 450RX, (2)MT2, a 45min25
5) Bissinho Zavatti, Honda CRF 450RX, (3)MT1, a 1h10min18
CARRO
1) Marcelo Gastaldi / Cadu Sachs, Century CR6-T, (1)T1F, 26h20min13
2) Marcos Baumgart / Kleber Cincea, Prodrive Hunter, (1)T1+, a 13min52
3) Mauro Guedes / Edu Bampi, Toyota GR Hilux DKR, (2)T1+, a 1h14min15
4) Carlos Ambrosio / Luiz Afonso Poli, Century CR6, (2)T1F, a 1h43min25
5) Marcos Moraes / Fábio Pedroso, T-Rex, (1)T1, a 2h13min08
UTV
1) Deni do Nascimento / Gunnar Dums, Can-Am Maverick X3, (1)UT1, 28h30min17
2) Rodrigo Varela / Matheus Mazzei, Can-Am Maverick X3, (2)UT1, a 1min39
3) Thiago Fraga / Álvaro Amarante, Can-Am Maverick X3, (1)UT2, a 33min00
4) Bruno Varela / Gustavo Bortolanza, Can-Am Maverick X3, (3)UT1, a 35min06
5) Gabriel Cestari / Jhonatan Ardigo, Polaris RZR Pro R, (2)UT2, a 35min50
QUADRICICLO
1) Wescley Dutra, Yamaha Raptor 700, (1)QDA, 36h10min48
Aspas
Mason Klein (campeão Moto)
“O Sertões foi uma das melhores provas de que participei, e também minha primeira vitória na classificação geral. Um rali que me ensinou muitas coisas novas. Eu me diverti bastante sobre a moto. Me senti à vontade no início para adotar um ritmo forte e, quando consegui uma vantagem confortável, procurei não correr riscos. Volto para casa com ótimos momentos e lembranças na bagagem”.
Deni Nascimento (piloto campeão UTV)
“Tivemos que exigir tudo e mais um pouco, tanto de nós quanto do carro. Subimos um pouco a régua do ritmo, corremos alguns riscos, conseguimos superar todos os obstáculos e tirar a diferença que faltava. Acreditamos todo o tempo, falei que eu iria acelerar até a rampa de chegada e funcionou. O título de 2019 foi especial por ser o primeiro, mas esse foi bem mais difícil pelas circunstâncias”.
Gunnar Dums (navegador campeão UTV)
“Ainda não consigo acreditar, completei a especial achando que não tínhamos conseguido, mas de repente vi que o tempo do Rodrigo (Varela) e do Matheus (Mazzei) tinha sido mais alto do que precisávamos para vencer o rali. É uma sensação muito incrível, um sonho que estou realizando ao vencer o Sertões pela primeira vez”.
Marcelo Gastaldi (piloto campeão Carro)
“Muito feliz por ter vencido o Sertões, nosso carro sempre foi competitivo desde a primeira participação; tínhamos conquistado algumas etapas, mas a classificação geral do rali é diferente. A constância deu resultado e finalmente conseguimos, em uma edição de um grid muito pesado, com várias máquinas de ponta. O 4×2 é muito prazeroso de pilotar, me divirto muito com ele, e o resultado vem como consequência”.
Cadu Sachs (navegador campeão Carro)
“A ficha ainda está caindo, quando passamos pelo último controle da prova é que começamos a nos dar conta. É um carro 4×2, achávamos que ainda não tínhamos condições de vencer esse ano, mas sempre fizemos o nosso melhor. O Century não teve qualquer problema ao longo de todos esses dias, contamos aqui com o suporte de seu construtor e uma equipe incrível. É um sonho, até difícil de acreditar”.
Comunicação Sertões BRB
Meg Cotrim
Rodrigo Gini
Aline Ben da Costa
Foto: Duda Bairros/Sertões