É difícil encontrar uma maneira de começar este texto em meio a tantas mudanças para o ano de 2022. Agora entramos em uma nova era do WRC: os carros híbridos. Seguindo a tendência (inevitável, eu diria) da industria automotiva, agora o Mundial de Rally também começa dar os seus primeiros passos em direção a sustentabilidade e eletrificação de seus carros. Tendo isso em mente, de agora em diante, os carros da categoria Rally1 terão além da nova estrutura tubular, dois motores que combinados geram mais de 500 hp de potência para um carro com menos de 1300 kg. Para você que fez careta ao ler a palavra “eletrificação”, já parou para pensar que os atuais carros serão mais potentes do que os mitológicos carros do Grupo B no anos 80? Pois é, híbridos, máscaras faciais e uma pandemia talvez perto do fim, são esses os novos tempos que vivemos.
Bom, agora que a introdução esta feita, podemos partir para Monte-Carlo. Dizer que a abertura do campeonato em terras francesas poderia ser vencida por um francês é quase uma redundância. A diferença é que devido as temperaturas nem tão baixas, a neve, figura carimbada da etapa monegasca, estava praticamente ausente. Tradicionalmente, a disputa do Rally de Monte-Carlo começa ainda na quinta-feira e desde lá tivemos a dominância de algum dos Sébastiens. Vale destacar a vitória de Gus Greensmith com o novo e belíssimo Ford Puma na SS7, sendo essa a sua primeira vitória em um trecho cronometrado a bordo de um WRC. Sinal de bons ventos para a equipe de Sir. Malcolm Wilson? Diria que sim. No final da sexta-feira, Sébastien Loeb e Isabelle Galmiche, nova navegadora do gênio francês (e que curiosamente também é professora de matemática para crianças.) lideravam o rally com uma vantagem de 9.9 segundos sobre o vice-líder da prova, Sébastien Ogier, também de navegador novo, Benjamin Veillas, com o Toyota GR Yaris.
No sábado, o Rally de Monte-Carlo teria mais 5 provas especiais e assim Sébastien Ogier partiu para cima de Loeb em busca da liderança da prova. Com isso, Ogier acabaria por ficar na frente de Loeb em 4 dos 5 trechos disputados e no final do sábado assumiria a ponta da classificação geral com uma vantagem de 21 segundos para Loeb, seguido Craig Breen, colega de equipe de Loeb e Kalle Rovanperä, companheiro de Ogier.
No domingo, último e decisivo dia de provas, tudo se encaminhava para uma vitória até que tranquila do atual campeão, Sébastien Ogier. Era só trazer o carro para casa, certo? Sim, porém no penúltimo estágio do dia SS16 La Penne / Collongues 2, tudo mudou. Em questão de segundos, a até então liderança confortável de Ogier foi pelos ares juntamente com os fragmentos do pneu dianteiro esquerdo do Toyota GR Yaris do francês. Voilà! O Primeiro lugar da prova voltava para as mãos de Loeb e Galmiche. Quem esperaria tantas reviravoltas em uma prova de abertura de temporada? Eu não. Mas nem tudo estava terminado, para dar mais emoção, Sébastien Ogier acabaria queimando a sua largada na SS17, especial que também conta com pontos extras e que seria vencida por Kalle Rovanperä, sendo penalizado com 10 segundos. Curiosamente, a diferença entre Loeb e Ogier, os ponteiros da prova de Monte-Carlo, terminaria em 10,5 segundos apenas! Assim, Loeb acabaria vencendo mais uma prova aos 47 anos de idade, sendo essa a sua oitava vitória no Rally de Monte-Carlo.
Antes que me esqueça: e a Hyundai? Não, eu não esqueci de falar deles. O problema é que a equipe da montadora sul-coreana não teve um final de semana significativo e obteve apenas um modesto sexto lugar geral com Thierry Neuville após os abandonos de Ott Tänak e Oliver Solberg.
O resultado final da prova foi este:
Tudo indica que teremos uma grande temporada pela frente. A primeira impressão que o Rally de Monte-Carlo deixa é que o Ford Puma parece ser um carro rápido e confiável. No caso da Toyota, equipe com o maior orçamento, o seu Yaris também aparenta ser rápido, além de contar com dois dos favoritos para o título de 2022 em seu plantel; Elfyn Evans, atual vice-campeão e o jovem Kalle Rovanperä. Já na Hyundai ainda pairam ares de dúvidas após a mudança de liderança da equipe, até então liderada por Andrea Adamo, além da pressão por resultados vinda da Coreia do Sul sobre a equipe sediada em Alzenau na Alemanha. Em termos de pilotos, a marca sul-coreana está muito bem servida com Ott Tänak, Thierry Neuville e Oliver Solberg, porém só o tempo dirá se o Hyundai i20 N será páreo para seus concorrentes.
Nos vemos em fevereiro na Suécia. Até lá!
Texto: Fernando Brondani